sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Hoje estou para citações

Mais um texto lúcido por Ana Sá Lopes:

"A campanha do referendo sobre o aborto entrou na recta final. Se isto não foi bom, agora só pode piorar. Já eram expectáveis os folhetos mais ou menos terroristas que alguns leigos católicos têm distribuído pelas caixas do correio ou nas mochilas das criancinhas dos infantários de Setúbal. Já era previsível a comparação do aborto à "pena de morte" ou as mulheres que abortam a "assassinas" ou ainda a difusão da teoria de que a prática do aborto, caso seja despenalizada, será igualzinha à moda do telemóvel, tese popularizada pela eminência do "não" João César das Neves. Para quem esperava o pior, o pior não surpreende. Se Salazar está em vias de ser eleito o melhor português de sempre, é não conhecer o País imaginar que as coisas podiam correr melhor. Isto é isto. É isto - mal de quem o ama (ou não se livra). Independentemente da vantagem do "sim", quase todas as sondagens assinalam uma descida das intenções de voto favoráveis à despenalização de Outubro para cá. Foi mais ou menos isto que se passou em 1998 - o "sim" perde terreno à medida que a campanha avança, porque o ruído é desmobilizador e a confusão instalada é propícia à abstenção. Mas, ao contrário do que diz Mário Soares, uma vitória do "não" será uma tragédia - perde-se a última oportunidade para acabar com uma alínea do Código Penal hipócrita (a prática do aborto, desde que clandestino, é socialmente mais aceite que a do incesto, por exemplo, que não é considerado crime à luz do Código Penal). Perde-se a última oportunidade para acabar com uma lei que condena as mulheres pobres às parteiras de marquise e à investigação judicial sobre a sua vida íntima, que não acabará com a suspensão de julgamentos defendida por boas almas que vão votar "não" no dia 11.
A derrota do "sim" será, efectivamente, uma tragédia: a menos que, numas próximas eleições legislativas, seja eleita uma mulher primeira-ministra - se Paula Teixeira da Cruz for candidata, eu voto PSD - não haverá mais referendos nem homens capazes de mudar a lei na Assembleia da República. A vidinha, os panfletos católicos, o lugar de Salazar enquanto grande português, esses continuarão habitualmente. "
DN de Hoje 2.2.1007

E mais um SIM por Vasco Pulido Valente:

«De qualquer maneira, e apesar do alarido geral, a pergunta do referendo é limitada e concreta: quer, ou não quer, o eleitorado acabar com o aborto clandestino até às dez semanas de gravidez? Nada mais. O "não", sem defender o regime presente, alega que esta medida irá aumentar e "normalizar" o aborto. E, para evitar esse perigo, aceita que milhares de mulheres paguem um preço de sofrimento e de humilhação (a maioria infelizmente por ignorância e miséria). O "sim" prefere acabar com o mal que vê e pensar depois no mal que vier, se de facto vier. O referendo é um acto político, que se destina a mudar a sociedade (idealmente, para melhor) e não resolver um debate. Claro que, se o "sim" ganhar, o Estado, na prática, "oficializa" o aborto. Mas triste de quem espera do Estado uma fonte de legitimidade moral. Por mim não, espero. E voto "sim". »
Público de hoje 2.2.2007

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Hoje estou para críticas.

E aproveito para começar com Ana Sá Lopes, com um artigo no nada suspeito Diário de Notícias.

No fundo, é mais do mesmo, mas dito de outra maneira. Os do "não" são uns criminozozecos que andam praí a impedir que as mulher pobres possam ir matar os seus filhos aos hospitais públicos; os do "sim", esses grandes libertadores das mulheres oprimidas e coitadinhas, mudarão a lei e comprometem-se a pagar dos seus impostos os abortos.

Agora Vasco Pulido Valente, com mais umas jóias literárias, desta vez escritas também no nada suspeito Público.

«De qualquer maneira, e apesar do alarido geral, a pergunta do referendo é limitada e concreta: quer, ou não quer, o eleitorado acabar com o aborto clandestino até às dez semanas de gravidez?»

Mau. Ai é?

«E, para evitar esse perigo, aceita que milhares de mulheres paguem um preço de sofrimento e de humilhação (a maioria infelizmente por ignorância e miséria)»

Coitadinhas... Uma miséria miserosa...
Os tais "não" dizem: "Não tem problema. Se não tens condições para o ter, apoiamos-te a gravidez e os primeiros tempos de recém-nascido, ou entregas-nos o filho que cuidamos dele.". O Estado, e estes senhores, verdadeiros compinchas, dizem: "Não tem problema. Nós ajudamos-te a matá-lo.".

«Claro que, se o "sim" ganhar, o Estado, na prática, "oficializa" o aborto. Mas triste de quem espera do Estado uma fonte de legitimidade moral.»

De facto, deve ser uma pessoa bastante triste aquela que espera deste Estado qualquer coisa em matéria moral...

Meus caros amigos partidários do "sim". Têm gente tão mais inteligente para publicar... Assim não convencem ninguém!

12:34 da manhã, fevereiro 03, 2007  
Anonymous Anónimo said...

È POR CAUSA DE GAJOS COM ESTE QUE ESCREVEU ISTO QUE VOTO SIM

EU VOTO SIM!

7:44 da tarde, fevereiro 03, 2007  

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