terça-feira, janeiro 16, 2007

Retroactividade

Andámos todos na Escola Primária.
Da minha professora guardo as piores memórias.
Todos os anos, recebia estagiárias que, melhor ou pior, tentavam substituir a docente principal. As maneiras eram bastante interessantes. Umas cativavam pelas actividades relacionadas com o estudo do meio, a meu ver, era a melhor forma. Outras tentavam a matemática, outras "atacavam" pela leitura. Neste particular, uma senhora introduziu a "hora do conto". Este fantástico evento consistia em algo muito simples: silêncio, que se ia contar um conto. Fosse só isto e este post não existia. Para além do óbvio respeito a prestar, via "caluda!" geral, exigia, a teacher to be, luzes apagadas e mãos a formar uma almofada, de forma a que nos encostassemos à parede e escutassemos...escutassemos...Até lhe perguntaram porquê aquilo tudo. A resposta foi peremptória, como aquelas excepções de processo (agora, por palavras da própria):"Porque a minha mãe fazia assim."
Quando se é criança, chega. Chega uma frase, chega uma expressão. Um dos males de crescermos é querermos mais. Queremos tanto, que até de uma explicação, se pede muito. Como seria a discussão, sobre a IVG, numa sala de 4ª classe? Explicando, para miúdos, a pergunta que vai ser submetida a votação, que diriam eles? SIM? NÃO? Como nada é pacífico, se nem Jesus agradou a todos, o caos bateria à porta. Gritaria, talvez alguma pancada. Os argumentos surgiam.
Perguntem-se quais seriam.
A votação seguia e alguém venceria. Só que, ali, não contava para nada.
Ninguém que lê este blog anda na 4ª classe. Aquela votação não é simulada.
Algum menino diria SIM, porque sim? E NÃO, porque não? Discutir é excluir respostas dessas. Até uma criança de 7 ou 8 anos o sabe. Mas ainda tem mais qualquer coisa presente: separa-se o bem do mal, o certo do errado, o correcto do incorrecto. Todas elas saberiam que votar NÃO, todas elas saberiam que votar SIM não significaria quebrar laços de amizade. Que, ao fazer-se uma escolha, se está a prejudicar seja quem for. Porque, até para uma criança, escolher é essencial.