sábado, janeiro 27, 2007

Respostas

Uma leitora do Blog decidiu, e bem, enviar-nos um mail com alguns pedidos de esclarecimentos.
Aqui fica.

Estive a ver o artigo de topo do vosso mail, e fiquei curiosa porque sei que não há mulheres presas por abortarem, só em prisão preventiva. E acho que nenhuma por abortar antes das 10 semanas.
E vejo que têm a mesma dificuldade do Sr. Ministro. Distinguir os processos por pedido de aborto, dos de abortistas clandestinos por dinheiro.

>Então a necessidade não é a de proteger as mulheres desses criminosos? do aborto clandestino?

>Ou querem também defender os abortistas?

>Ou acham que é tudo igual?

>Eu consigo compreender uma mulher que aborta, mas não consigo despenalizar quem pratica o aborto, ou qualquer outro acto médico, em particular, sem condições, só por dinheiro.
>
>Ou será que eles o fazem só por solidariedade?

>Agradecia o vosso esclarecimento para este mail.





Cara *****:

Vou responder ao seu mail apenas porque penso que quer ser esclarecida.
Vamos, então, por partes.
A sua primeira pergunta tem respostas iguais: é preciso proteger a mulher e é preciso protegê-la do aborto clandestino. Veja, só com uma despenalização bem sucessida terá o Estado margem de manobra de instituir os meios necessários para combater todo o flagêlo que se tem verificado neste sector. Com uma resposta SIM, poderá nunca mais ver nas notícias que houve alguém que enriqueceu a praticar um crime hediondo, porque agora a legalidade trará meios, trará dignidade e segurança.
O que é para si defender o abortista? Defender aquele que pratica o aborto? Se sim, tem de distinguir as coisas. Naturalmente que, por haver tanta a tanta gente a extorquir dinheiro a inocentes desesperadas, o nosso movimento ganha adeptos. Sendo certo que muitas mulheres recorrem a clínicas estrangeiras para interromperem a sua gravidez, não estará a ***** a perguntar se defendemos esses establecimentos. O problema é interno. O problema são aquelas pílulas abortivas, os abortos de vão de escada e até das clínicas, algumas possivelmente com bom nome, que ajudam a essa prática, sem qualquer tipo de escrúpulos, só em troca de dinheiro. Esse negócio ilegal preocupa qualquer militante do SIM. Primeiro, porque é imoral. Segundo porque não é seguro. Terceiro porque uma escolha legítima em nome da vida, por parte da mulher tem de ser protegido pela lei.
Posto isto, deixe-me que lhe diga que não é tudo igual.Se nós conseguimos distinguir aquela que aborta por necessidade, sabemos separá-la do que a ajuda na prática só porque quer ganhar uns tostões. A ***** deveria fazer o mesmo.
Finalmente, toca no busilis da questão. Tendo-a como defensora do Não, entendo que não desculpe quem ajuda a praticar a IVG, mas não percebo porque é que condena a mulher. Pense nisso e seja coerente. Mas, respondendo à sua pergunta, há de tudo. Haverá os mercenários que só querem a remuneração por um trabalho seja, bem ou mal feito,haverá o médico que sabe que o que está em causa é a saúde da mulher, tanto física como psicológica e que os motivos que subjazem aquele pedido que lhe foi feito são fortes demais para que ele se negue e efectuar seja o que for.
Trata-se de saúde fisica, e psicológica.
Trata-se de escolha.
Trata-se de economia.
Trata-se de moral.
Trata-se combater um crime.
Trata-se de separar o trigo do joio, a hipocrísia da realidade.
Trata-se de mostrar quão preparado está um país para evoluir e tornar-se par dos mais avançados da Europa.
Trata-se de ir votar no dia 11.
Trata-se de querer mudar o que está errado.
Espero ter sido útil.

Atenciosamente,

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Ex.mo(a) "Лев Давидович"?

Antes de mais, dexei-me por favor apelar ao seu bom senso.

Em seguida, permita-me que comente algumas frases da sua resposta, com o único fim de, repito, apelar ao seu bom senso:

«é preciso proteger a mulher e é preciso protegê-la do aborto clandestino»
E quem protege o "aborto", i.e., a criança que é abortada?
Sugiro-lhe uma pequena reflexão acerca disto.

«Com uma resposta SIM, poderá nunca mais ver nas notícias que houve alguém que enriqueceu a praticar um crime hediondo, porque agora a legalidade trará meios, trará dignidade e segurança.»
Se matutar brevemente, perceberá que a médio, longo prazo serão os cofres do Estado os principais beneficiários. Não é por mero acaso que a abertura da clínica espanhola em Portugal se dá por esta altura. O ideal, de acordo com um "cego" pensamento economicista, era que muitas mulheres abortassem, e não apenas as violadas e as portadoras de filhos com deformações genéticas.
Quanto à questão do _crime hediondo_, suponho que se referisse ao facto de "retirar a vida ao seu próprio filho" ser um "crime hediondo". É uma sentença que gera acordo. Bravo.
Os _meios_, existirão de certeza, já que o Estado é muito nosso amigo (passe a ironia) e tratará imediatamente de os colocar ao nosso dispor.
A _dignidade_? Parece-me um pouco confuso conciliar o termo "dignidade" com a prática abortista.
A _segurança_ é, sem dúvida, importante. Para se matar um feto é importante fazê-lo em segurança, sem prejudicar o corpo da mãe deste feto. Mãe esta que deixará de o ser, mas isso já não são razões do "corpo", mas sim da "mente"...

Apenas comentarei agora algumas das frases emblemáticas com que termina o seu direito à resposta:

«Trata-se de moral.»
Certamente, depois de lido o texto redigido por si, e de criado o contexto relativo ao "espírito" com que o escreve, não é de admirar que fale sem escrúpulos de "moral", quando o que está em causa é defender o direito à vida.

«Trata-se combater um crime.»
Legalizando outro, bastante mais "hediondo"?

Não comentarei o seu conceito de "evolução" de uma nação, mas deixo-lhe uma pequena observação acerca de "hipocrisia"; e faço isto atacando o cerne de toda a questão, e o nome pelo qual é tratada.
_Interrupção Voluntária da Gravidez_:
- Aborto;
- Parto por cesariana;
- Parto provocado.
Parecem-me ser coisas distintas na forma, no meio, e no fim; porém, o título assenta erradamente nas três.

Creio ser oportuno deixar esta apreciação por aqui.
Suponho que se sentirá directamente atacado pelos meus comentários, mas deixe-me desde já realçar de que não é essa a intenção. É apenas um gesto de confiança no seu bom-senso.

A propósito, propunha-lhe que se juntasse ao cada vez maior grupo de pessoas que defendem a Vida, e, quem sabe, possamos numa fase posterior fundar um movimento que faça pressão sob o Estado a fim de melhorar as leis de adopção.

Melhores Cumprimentos,
David Sanguinetti

2:45 da tarde, janeiro 27, 2007  
Blogger Лев Давидович said...

Atacado?
Não.
Sinta-se antes O atacado.
Ah, e leia bem, perceba o que quero dizer. Não entenda o que quiser.

3:15 da tarde, janeiro 27, 2007  
Blogger Afonso Gaiolas said...

Olá a todos,
O ideal cívico compele-me a deixar-vos a minha opinião, velha de quase dois anos, mas à qual não retiro ou acrescento uma vírgula.

Um abraço,
Afonso Gaiolas

Sexta-feira, Abril 22, 2005

Referendo sobre o aborto, ou um aborto de referendo?

Diz-se daqueles que, apesar de receberem contínuos sinais de recusa das fêmeas que tentam cortejar, apesar de engolirem mais sapos do que as margens da ribeira de Cobres albergam, se insinuam de tal forma insistentemente que a conquista do troféu se dá pelo cansaço, diz-se, dizia eu, que a façanha foi conseguida por "esmagamento".
Serve esta analogia para ilustrar o que me parece ser o pensamento de alguns sectores da nossa sociedade face à problemática do aborto em Portugal.
Merece o assunto as controvérsias de proporções bíblicas que proporcionou nos últimos tempos?
Tudo isso e muito mais.
Penso, contudo, que muito se tem rematado, mas continuamente ao poste, poucas vezes se discutindo o que realmente interessa debater.
Vou começar pela própria palavra ABORTO - Acto ou efeito de abortar. Nunca o dicionário refere a aniquilação de um ser como significado da palavra, mas ao invés, define-a como a expulsão do feto antes do fim da gestação, ou ainda "o que nasceu (começou a ter vida exterior) prematuramente".
Curiosa esta diferença conceptual de vida exterior e interior, tão curiosa que nalgumas comunidades que não a nossa, de desenvolvimento imaculado e mãos sempre limpas, se considera a contagem de ambos os períodos na idade das pessoas.
Todos consideramos como o mais hediondo dos crimes a eliminação de um ser recém-nascido. Pois bem, construamos uma simples fita de tempo. No intervalo temporal D+x (sendo D o momento do nascimento e x qualquer período que escolhamos (1 mês, 1 ano, 10 anos, 100 anos, ...), a palavra assassínio estará sempre presente, se decidirmos aniquilar um ser humano em qualquer destas idades. Mais complexa se torna a análise se trocarmos o sinal da adição pelo da subtracção. A partir de que momento consideramos estarem reunidas todas as condições para que, em consciência, possamos afirmar existir VIDA? Pensar demasiado sem conhecimento científico suficiente, torna angustiante a busca de respostas. Confesso que foi o que me aconteceu. Tanto mais que a proliferação de artigos sobre o tema em causa só torna ainda mais nebulosa a formação de uma opinião. Uma fracção de segundo, um dia, dez, doze, dezasseis semanas ou nove meses?
Defendo que as leis de um país se devem reger pelos valores morais que os seus cidadãos consideram ser os correctos, nunca se devendo ceder à tentação de resolver um problema com outro problema. Não me serve portanto o argumento da falta de informação, da má qualidade das instituições de solidariedade social que prestam a educação a quem não pôde ser acolhido por uma família, da inconveniência temporal, ou qualquer outro de cariz similar.
Em coerência devo portanto afirmar que, sendo o valor da vida o mais importante na escala das pertenças individuais, a partir do momento em que cientificamente me provarem que a centelha existe, devem ser repudiados todos os actos contrários ao seu desenvolvimento e maturação.
Pois, pois, centelha é muito vago...
Estava só a tentar ganhar tempo para que o meu cérebro me ajudasse...
Disse cérebro?
Se trocarmos um rim, continuamos a ser nós próprios?
Concordam que sim!
Se trocarmos de coração, continuamos a ser nós próprios?
Concordam que sim!
E se trocarmos de cérebro?
Eu convictamente penso que não. Acredito aliás que a verdadeira fonte de longevidade para os seres humanos reside na substituição de "componentes", preservando ao máximo o único insubstituível - o cérebro.
Reside aqui portanto a resposta à minha pergunta.
É verdade que no momento da concepção, potencialmente temos uma vida a ser gerada. Mas estamos ainda no domínio das células indiferenciadas, e a verdade é que, mexendo os cordelinhos certos, ou errados, conforme o ponto de vista, podemos gerar uma miríade de monstruosidades que com a vida nada têm em comum. Não considero portanto que os inúmeros bancos de embriões existentes pelo mundo sejam imorais, uma vez que a essência de cada ser individual ainda não existe - que o cérebro ainda não se formou.
Parece ser cientificamente aceite que todos os principais componentes do cérebro são claramente distinguíveis praticamente cinco semanas após a concepção. Assim sendo, em nome da coerência, até essa data (ou qualquer outra mais precisa que cientificamente seja acreditada) não deveria ser criminalizada, penalizada, ou sequer moralmente condenável a decisão de inviabilizar a evolução do embrião. Dentro deste período, englobar-se-iam os casos excepcionais já previstos na nossa legislação, exceptuando claro o risco de vida para a mãe. Para a análise de malformações, ter-se-ia que fazer um esforço, grande, é certo, mas realizável se bem direccionado no sentido de, por análise genética, se determinar o mais precocemente possível a sanidade de cada futuro ser humano.
Tendo tornado clara a minha posição, resta-me tecer um comentário, necessariamente cáustico ao slogan "A barriga é minha, faço dela o que quiser!", e outras idiotices do mesmo calibre, que só tornam ridícula a posição de algumas mulheres, que pensam ser este o cavalo de batalha final contra a opressão masculina. É verdade que é o indivíduo do sexo feminino o veículo hospedeiro do novo ser que está a ser gerado, e que provavelmente é o acto mais nobre a que alguém poderá em toda a sua vida aspirar, mas isso não tira o direito e simultaneamente a responsabilidade do homem perante o seu filho. Deveríamos pois ver ambos os progenitores condenados pelo acto abortivo, se existisse o conhecimento da acção, mas pela mesma ordem de ideias, negar a unilateralidade materna na decisão de continuar, ou não, com o processo de gestação.
Quanto aos direitos sobre a barriga, esses são inalienáveis (embora algumas devessem receber mais conselhos sobre estética), mas quando se trata da geração de um novo ser, ainda e sempre reaparece o velho, mas sábio conceito, que sumariamente nos lembra que a liberdade individual termina onde começa a liberdade de terceiros.
Decidam em consciência!

9:47 da tarde, janeiro 27, 2007  

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