quinta-feira, novembro 23, 2006

Porquê o sim

Fui interpelado a explicar porque voto SIM mesmo sendo católico e sendo a posição da Igreja a de defender o NÃO.
Primeiro, porque não devo posições ideológicas a ninguém. Acho que a liberdade de pensamento ainda existe, e se a Igreja (leia-se a conferência episcopal portuguesa) defende que o Não deve ser defendido, eu não vou atrás, tal como não vou atrás de tantas outras coisas que eles dizem como o não uso do preservativo, mesmo sabendo que milhares de pessoas morrem anualmente devido a doenças sexualmente transmissiveis.
Segundo (e principal), porque se eles defendem o NÃO porque defendem a vida, eu defendo o SIM porque defendo também a vida. Contradição minha? Não, só é preciso pensar um bocadinho. Estão os defensores do NÃO realmente convencidos que o aborto vai acabar se continuar a ser crime? Pois eu acho que não. O que vai continuar são os abortos clandestinos, as consequências irreversíveis para a mulher, os fetos que nascem deformados devia a abortos mal feitos, a morte de mulheres por se entragarem às mãos de uma pessoa qualquer num sítio imundo, os bebés abandonados num caixote do lixo por os seus pais não os quererem, etc etc. Se defensessem a vida, também defendiam que isto tem que acabar.
Se estou a violar a minha religião e a ir contra ela? Não sei, talvez, mas a fé é minha, não deles e para descargo de consciência prefiro ter esta posição. Prefiro optar pelo SIM, pela escolha, pelo fim do aborto clandestino,pelo fim da morte de mulheres por abortos mal feitos ,pelo fim do negócio que é o aborto, pelo fim da humilhação da mulher na barra do tribunal, pelo fim do abandono dos recém nascidos que tanto chocam a sociedade. Só espero que a prática não contrarie o que proclamamos na carta de intenções. Porque isso seria um desvirtuamento do voto dos portugueses. Porque o que se referenda é a despenalização, e não a liberalização, e para tal não acontecer há que criar mecanismos que o evitem.