terça-feira, dezembro 19, 2006

Natal

O Natal foi uma festa religiosa. Foi. Hoje, é uma festa, essencialmente, consumista para muitas famílias.
Não é que me ponha a criticar o Natal, os lucros brutais do lojistas, como fazem tantos, em programas televisivos, ou na rádio. Eu gosto da época. Está acima de qualquer cifrão aquilo que sinto na noite de 24 de Dezembro e no dia 25.
O Nosso blog trata de um tema específico, a luta pela IVG, até às 10 semanas, em estabelecimento de saúde autorizado. Assim sendo, não fará muito sentido estar para aqui a dissertar sobre a quadra, sobre o prós e contras. Nada disso, muito pelo contrário. Interessa-me a mim saber como é o Natal para quem teve que praticar um aborto clandestino. Interessa-me, mesmo, saber em que situações psicológicas estão as mulheres que foram levadas ao tribunal por não terem cometido qualquer crime. Interrogo-me como se sentem os médicos, os enfermeiros e todos os seus auxiliares que, por lerem, como ninguém, a sua consciência, por a ouvirem e seguirem-na, ajudaram, por razões totalmente válidas, várias mulheres a interromperem a sua gravidez, voluntáriamente.
Como estão todas essas individualidades?
Recuperaram?
Estão pior?
Como ficou tudo resolvido?
Silêncios...tantos silêncios que arrepiam. Os números estão aí. Tantas foram as mulheres... Como é a sua consoada?
Como é que se celébra o nascimento de Cristo sabendo que a sociedade e a justiça condenam o mais desesperado, o mais desprotegido, o mais incauto?
Boas Festas. Mas para quem?

8 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Independentemente da nossa posição sobre o aborto parece-me despropositado e perigoso estar afirmar que a mulher que abortou violando a lei actualmente em vigor não praticou um crime. Como já tinha anteriormente exposto a Lei não é apenas para se cumprir quando com ela concordamos. Quando o comum cidadão puder dizer o que deve ou não ser crime então a democracia terá sido enterrada.

Outro ponto criticável do post passa pela ideia de que a mulher que tenha abortado ilicitamente verá num Natal motivos poucos de alegria. Por um motivo muito simples: também o desempregado, o imigrante, o sem-abrigo, o preso, o louco, o benfiquista (como eu)... verá este Natal como algo que podia ser muito melhor se...

Cumprimentos ao sr. Lev.

12:58 da tarde, dezembro 21, 2006  
Blogger Anabela S. Dantas said...

havelock: Não se está a discutir a obediência dos cidadãos à lei, está-se a discutir a justiça presente na lei! Acha bem uma mulher ser presa por abortar? (Era crime ser judeu na Alemanha de Hitler. Assumo, pela lógica de ideias, que quem fosse judeu praticava um crime!?)
O segundo ponto é válido até certo ponto; o desempregado não corre o risco de ir preso por perder o emprego...

Pelo Sim: Parabéns pelo Blog!

7:08 da tarde, dezembro 21, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Cara Anabela, os alunos de Direito, para bem ou para mal, aprendem a distinguir entre a forma e o valor material ínsito na mesma. Cada país é soberano para fazer as suas próprias leis. A Lei tem uma forma e tem um valor por detrás. Como cidadão comum respeitar a forma da Lei é fundamental. Claro que se o valor por detrás atentar contra outro de força maior poderá sempre o vulgo Homem fazer uso do direito de resistência. Mas isso traria de novo a discussão de saber qual o valor superior (e ficaríamos aqui o resto do tempo sem chegar a acordo).

O exemplo dos judeus é uma boa táctica. Porém a resposta que dou é a de que (se considerar que havia uma lei que proíbia os judeus, que não era bem o que acontecia, até era pior) sim. Havendo lei a sua violação é crime.
Já que usa um argumento histórico eu devolvo-lhe da seguinte forma: na Roma Antiga, seguinda tradição helénica, não havia nenhuma lei que proíbisse actos de cariz sexual com menores, sobretudo rapazes. Era crime, então, fazê-los? Nessas sociedades lógico que não. Hoje, evidente que sim.

Ponto de ordem:
Em caso de vitória do Sim deixará de ser crime a interrupção nos termos previstos pelo referendo. Até lá, formalmente, é-o.

Cumprimentos.

7:29 da tarde, dezembro 21, 2006  
Blogger Лев Давидович said...

Por partes, para que haja entendimento do que eu quis dizer:
Para mim, a actual Lei penaliza alguém que não devia ser penalizado. Vou ser claro: Não é por não concordar com a Lei que a deixo de aplicar, até aí tudo bem. Mas o busilis da questão é outro: por não concordar com a Lei é que luto contra ela. Há pouco dias terei dito que a lei injusta não pode ser lei. Mas ela é-o de facto, até que se extinga e é para isso que cá estamos.
Segundo ponto: para os outros problemas sociais há vários escritos. Este blog trata do drama das mulheres, deste problema milenar. Como deves perceber, cabe analisar o que o blog propõe e nada mais.
Obrigado Anabela, volte sempre:)

11:51 da tarde, dezembro 21, 2006  
Anonymous Anónimo said...

"Como deves compreender" as analogias fazem milagres de explicação. E não há temas fechados, tudo se interliga, por ser essa uma das riquezas da sociedade.

10:50 da manhã, dezembro 22, 2006  
Blogger Anabela S. Dantas said...

havelock

Reitero: e quem não concorda com a lei porque a vê como claramente castradora? E se essa porção de gente for uma maioria? Deverá subjugar-se a ela de uma forma passiva? A Lei evolui e como tal é falível. Eu entendo que pôr em causa algo com o qual não concordo, mesmo sendo Lei, é saudável! Para mim e para a sociedade.

Sem as ratoeiras da analogia, é isto que pretendo reflectir sobre.

Amigavelmente!

7:23 da tarde, dezembro 22, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Claro que sim. Repare, eu apenas disse que é crime, independentemente da valoração que se lhe atribua.

Saudações Natalícias!

7:50 da tarde, dezembro 22, 2006  
Blogger A minha verdade said...

Desde quando é que o Natal deixou de ser uma "festa religiosa"?!?

É indiscutivel que se verifica um consumismo exacerbado nesta quadra, mas os cristãos continuam sendo-o, como sempre e ainda que gastem um pouco mais em presentes...

Não entendo... Sempre esta busca pelo criar de um senso-comum que dê a religião como coisa defunta...!

12:56 da manhã, janeiro 02, 2007  

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