Uma colega de faculdade, defensora acérrima do NÃO, em jeito de provocação, disse-me: " Em Letras estão, hoje, numa conferência, os causadores da possibilidade de haver IVG nos E.U.A. Só que hoje em dia, já são contra. Vêm explicar que aquilo deu buraco."
Gosto muito da colega em causa, e, por isso mesmo, não pude deixar de lhe responder: "Adoram aqueles que já estiveram dos dois lados da barricada e agora escolheram-vos".
Não foi a resposta a altura.
Os defensores do NÃO têm uma força que os do SIM não têm. São inconvertíveis. Não haverá argumento que os demova. Se fosse provado que não havia vida humana, por A+B, mesmo assim, seriam pelo NÃO. Se a base jurídica fosse inequívoca, e permitisse, sem qualquer somba de dúvida, interromper a gravidez, seriam contra. Se estou errado, que me corrijam. Não penso estar errado. O que move os defensores do NÃO é algo mais forte. Não importa dizer o que é. Interessa é saber se o que disse supra é verdade ou não.
Por seu lado, os defensores do SIM têm uma particularidade, quanto aos defensores do NÃO: são flexíveis. Pelo menos, falo por mim. Se me convencerem que não está em causa a saúde da mulher, que há vida humana, que o Direito proíbe, totalmente, e que, por fim, faz sentido trazer ao mundo uma criança que sofrerá, não terá chance de ser feliz, foi fruto de um falso amor ou que será um ser desprezado pelos entes próximos, confesso que estou aqui para mudar de opinião. Só defendo o que defendo enquanto acho que tenho razão.
Por enquanto, pugnarei pelo SIM, essencialmente, por dois motivos:
- Porque sei que niguém me convence de que o contrário está correcto;
- Porque só uma pessoa o tentou fazer, e não conseguiu.
Uma última nota: Não pude ir à conferência que anunciei. O meu colega epb já o disse. Foi com pena minha. Esteve presente o Professor Menezes Cordeiro. Outro dos vultos do Direito, em Portugal. Aconselho, vivamente, o seu "Tratado de Direito Civil" Tomo III, na parte da tutela dos nascituro. O Professor é pelo NÃO e defende-se com armas fortes. Leiam se puderem. Não se esqueçam é do espírito crítico, porque se o tiverem, conseguem suplantar o raciocínio ao fim de 10 minutos.